E que fábrica é esta? A Oliva foi a maior produtora nacional de máquinas
de costura e outros pequenos eletrodomésticos, que nas últimas décadas passou a
fabricar apenas canos e tubos, e que agora está a sofrer obras de reabilitação,
fui até lá por ser uma fã da
reabilitação de espaços.
Ainda não tínhamos chegado perto, e já se via a
torre onde se podia ler «Oliva»,
continuámos e lá fomos parar. A fachada do edifício principal dá nas vistas,
quer pelo enorme tamanho quer pela arquitetura. A torre tinha uma pintura
recente em conjunto com o seu relógio no topo e também as paredes exteriores. Já
as janelas eram as mesmas de sempre, notava-se pela camada de pó que se via ao
longe em cada vidro. Quando dei por mim estávamos do outro lado da estrada a
falar com o funcionário das bombas (mesmo em frente), que conhecia melhor a
Oliva do que todos os engenheiros juntos que lá trabalham agora.
Foi ele que nos contou um pouco de tudo o que
sabia. A Oliva não é uma fábrica, é sim um parque industrial, que inclui
inúmeros pavilhões, «Lá
dentro aquilo é um mundo, já cá estou há mais de trinta anos, e naquele tempo,
quando ainda funcionava, trabalhavam ali mais de três mil pessoas, até havia
quem falasse em três mil e quinhentas, com os filhos e outros familiares
d’alguns empregados... Aqui faziam um pouco de tudo.» e assim ficámos com uma noção
mais aproximada deste «mundo» que estava à nossa frente. «Até que isto acabou e o Godinho levou
as máquinas todas. Eram camiões e camiões, durante semanas, a entrar e a sair.
Chegaram a sair daqui, num só dia, vinte camiões carregados de máquinas...
Agora querem dar uma vida nova a isto, querem pôr aqui empresas, e acho bem,
isto foi grande de mais para ser posto de lado.». Indicou-nos de onde
poderíamos ver melhor este tal parque
industrial e nós fomos espreitar.
Algumas das janelas do rés-do-chão estavam abertas,
mas nada se via do lado de dentro para além de uma parede branca... O som de
rebarbadeiras e outras máquinas saía do interior do edifício principal, havia
pilhas de material de construção no interior do estaleiro montado ali mesmo à
beira dos pavilhões. Poucas pessoas se ouviam falar, mas não se via ninguém, ali trabalha-se pensei.
Demos
uma volta para absorver a quantidade de pavilhões a perder de vista que
constituiam a Oliva. Eram muitos. Até que no meio da sessão fotográfica nos demos conta de uma instalação de vários
homens fazendo chapéus, que tinha
inscrita
“Todos e
cada um, UNHAS NEGRAS deformadas e grossas, muito roidas dos ácidos, a rematar
os dedos escaldados.” in “Unhas
Negras”, João da Silva Correia.
Estávamos ao lado do Museu da
Chapelaria – edifício amarelo e cor-de-rosa – no qual podíamos ter passado para
almoçar, mas não, achámos que podíamos ir descobrir um pouco mais de São João
da Madeira, e esta visita fica adiada para uma próxima.
Talvez voltemos para ver a Oliva de cara lavada.
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