segunda-feira, 16 de julho de 2012

UM DIA EM CHEIO - PARTE 2



E que fábrica é esta? A Oliva foi a maior produtora nacional de máquinas de costura e outros pequenos eletrodomésticos, que nas últimas décadas passou a fabricar apenas canos e tubos, e que agora está a sofrer obras de reabilitação,  fui até lá por ser uma fã da reabilitação de espaços.



Ainda não tínhamos chegado perto, e já se via a torre onde se podia ler «Oliva», continuámos e lá fomos parar. A fachada do edifício principal dá nas vistas, quer pelo enorme tamanho quer pela arquitetura. A torre tinha uma pintura recente em conjunto com o seu relógio no topo e também as paredes exteriores. Já as janelas eram as mesmas de sempre, notava-se pela camada de pó que se via ao longe em cada vidro. Quando dei por mim estávamos do outro lado da estrada a falar com o funcionário das bombas (mesmo em frente), que conhecia melhor a Oliva do que todos os engenheiros juntos que lá trabalham agora.



 Foi ele que nos contou um pouco de tudo o que sabia. A Oliva não é uma fábrica, é sim um parque industrial, que inclui inúmeros pavilhões, «Lá dentro aquilo é um mundo, já cá estou há mais de trinta anos, e naquele tempo, quando ainda funcionava, trabalhavam ali mais de três mil pessoas, até havia quem falasse em três mil e quinhentas, com os filhos e outros familiares d’alguns empregados... Aqui faziam um pouco de tudo.» e assim ficámos com uma noção mais aproximada deste «mundo» que estava à nossa frente. «Até que isto acabou e o Godinho levou as máquinas todas. Eram camiões e camiões, durante semanas, a entrar e a sair. Chegaram a sair daqui, num só dia, vinte camiões carregados de máquinas... Agora querem dar uma vida nova a isto, querem pôr aqui empresas, e acho bem, isto foi grande de mais para ser posto de lado.». Indicou-nos de onde poderíamos ver melhor este tal parque industrial e nós fomos espreitar.




      Algumas das janelas do rés-do-chão estavam abertas, mas nada se via do lado de dentro para além de uma parede branca... O som de rebarbadeiras e outras máquinas saía do interior do edifício principal, havia pilhas de material de construção no interior do estaleiro montado ali mesmo à beira dos pavilhões. Poucas pessoas se ouviam falar, mas não se via ninguém, ali trabalha-se pensei.
Demos uma volta para absorver a quantidade de pavilhões a perder de vista que constituiam a Oliva. Eram muitos. Até que no meio da sessão fotográfica nos demos conta de uma instalação de vários homens fazendo chapéus, que tinha inscrita
 “Todos e cada um, UNHAS NEGRAS deformadas e grossas, muito roidas dos ácidos, a rematar os dedos escaldados.” in “Unhas Negras”, João da Silva Correia.




Estávamos ao lado do Museu da Chapelaria – edifício amarelo e cor-de-rosa – no qual podíamos ter passado para almoçar, mas não, achámos que podíamos ir descobrir um pouco mais de São João da Madeira, e esta visita fica adiada para uma próxima. 



Talvez voltemos para ver a Oliva de cara lavada.




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